Tudo o que aconteceu com o Vasco neste ano. Uma visão ampla da época apresentando a interação com os fatos marcantes do ano
domingo, 23 de junho de 2024
Antonio da Silva Campos biografia
Um dos presidentes mais icônicos do Club de Regatas Vasco da Gama foi o português Antonio da Silva Campos. Ele era irmão mais novo do lendário ex-presidente Raul Campos. Os irmãos Campos nascidos na cidade de Póvoa do Varzim no fim do século XIX marcaram época na história do clube.
Raul Campos chegou primeiro ao Brasil em 1898, mais tarde convenceu Antonio a emigrar em 19 de outubro de1902. Ambos morariam em definitivo na nova terra.
Os jovens portugueses freqüentavam o clube e praticavam vários esportes. De acordo com o memorialista Zé de São Januário: “Antonio Campos praticou ciclismo e pedestrianismo nas competições na Quinta da Boa Vista e Remo pelo Vasco na Santa Luzia, só não praticou futebol pois naquele tempo, segundo os vascaínos, era esporte para estudante e desocupado”.
Adesão de Antonio Campos ao futebol veio bem depois, não como praticante, mas como uma das figuras mais decisivas na formação de um elenco vitorioso. Em principio, ele ficou ao lado dos adeptos do remo que não queriam o futebol. Mas aos poucos vários vascaínos foram contagiados com a “febre do football”. Uma partida foi emblemática para esta mudança de postura. Em meados de 1917, o time do Vasco enfrentava o Boqueirão, tradicional rival do remo. Uma vitória sensacional por 3 a 0selou a paz entre as duas correntes que dividiam o clube. O resultado foi comemorado com extremo entusiasmo e uniu todos dentro do clube. Um salto qualitativo foi dado.
O preconceito dos remadores com o arrebatamento da paixão esportiva provocado pelo futebol vai aos poucos foi sendo derrubado. A partir daí tanto Raul como Antonio tiveram participações destacadas no inicio do futebol vascaíno (no final de 1915 e inicio da década seguinte). Antonio Campos vai ser um dos responsáveis por formar e comandar os famosos “Camisas Negras” nas primeiras grandes conquistas em 1922-23-24. Seu empenho, dedicação e amor ao clube ficaram evidenciados desde sempre. O reconhecimento de sua paixão desmedida para a agremiação foi reconhecida pelos sócios e diretores em 01 de julho de 1923 com o título de Benemérito. E Grande Benemérito em 17 de agosto de 1948.
Dono de uma importante loja de calçados no endereço mais nobre do Rio de Janeiro, na elegante Avenida Central 177(depois de 1912 Avenida Rio Branco), a Casa Campos era também um ponto de encontro de torcedores e sócios do Vasco. O local além de ser próximo a sede do clube na rua Santa Luzia, passou a ocupar lugar de destaque como ponto de venda de ingressos antecipados para os jogos do campeonato carioca e amistosos.
Antonio Campos fez parte da diretoria do Vasco ocupando vários postos durante vários anos. Todo este tempo de dedicação acarretou uma série de infortúnios nas finanças do jovem comerciante. Segundo o escritor Vargas neto, “foium desportista que esbanjou generosamente a sua atividade e sua energia em prol do esporte”. Ele foi a falência e precisou da ajuda do irmão que o empregou na Casa Sportman. O altruísmo ao colocar o clube a frente de suas preocupações comerciais foi apontado por seus amigos como o principal motivo para sua ruína financeira. Como enfatizou Vargas Neto na mesma crônica no Jornal dos Sports escrita após a sua morte: “a sua fortuna, a sua saúde, o seu tempo nunca foram poupados quando estava em jogo o interesse de seu clube”, conclui.
O jornalista Álvaro Nascimento, o popular Zé de São Januário, seu amigo desde 1915 quando se conheceram testemunhou toda a trajetória do dirigente. Ele vai ser o principal biografo e memorialistas de vários personagens do clube. Álvaro escreveu algumas crônicas dedicadas a vida do cartola, especialmente em 1969.
Antes disso, o ex-presidente teve uma singela homenagem pelo clube em 1950 quando foi erguido um busto de bronze em São Januário. Dois anos após o seu falecimento.
Depois de ser presidente no ano de 1923 Antonio Campos liderou o clube em outra época. Foi em 1940 quando vence a chapa liderada por Cyro Aranha em disputadíssima eleição.. Neste período a agremiação viveu algumas crises políticas e esteve afastada de suas maiores glorias do passado. Foi a a época da Libertação Financeira. Momento histórico em que o clube teve que pagar suas dívidas
Convém lembrar que Campos assumiu a presidência em 1939 após a renuncia do presidente Pedro Novais desgastado com uma briga com uma importante confraria política no clube : O Grupo dos Supimpas. Faltavam quatro meses para terminar o seu mandato.
Foi uma época de algumas polemicas. A principal delas foi contra o popular radialista Ary Barroso. Acusado de ser parcial em suas transmissões esportivas, o presidente Campos determinou a proibição do locutor narrar suas partidas dentro do estádio. Tal atitude acabou por criar uma imagem antipática do clube por setores da imprensa. Foi desta época que “praga” do Arubinha começou a ser divulgada pelos inimigos do Vasco.
Antonio Campos permaneceu na presidência até o final de 1941 quando Ciro Aranha vence pela primeira vez uma eleição. Era o inicio da formação do Expresso da Vitória.
Neste ano o jornalista Mario Filho começava a fazer uma série de entrevistas para o seu futuro livro, lançado em 1947, O Negro no Futebol Brasileiro contou com o depoimento de vários vascaínos. Antonio da Silva Campos foi um deles, conforme Mario Filho escreve nos agradecimentos.
Foi durante a sua administração que importantes comemorações do governo do presidente Getulio Vargas foram realizadas. Destaque para o evento de 1º de maio em que anunciou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), as primeiras leis trabalhistas do Brasil como a que instituiu o salário mínimo em 1940. Pela primeira vez Vargas utilizou um estádio para comemorar o dia dos trabalhadores. Em 1941 ele novamente volta ao estádio na mesma data para anunciar a criação da Justiça do Trabalho.
No final do ano veio a eleição que consagrou uma liderança emergente no Vasco: Cyro Aranha. Ao longo da década Antonio Campos continua atuante mas sem protagonismo. Em 1948 Campos não teve a oportunidade de estar presente nas comemorações do cinqüentenário C. R. Vasco da Gama em agosto (faleceu em 9 de maio). Porém deve ter morrido feliz pois teve tempo de acompanhar em fevereiro a conquista mais importante do clube até então: o título no Chile do Campeonato Sul Americano de Clubes. Primeira conquista de um clube brasileiro no exterior. Um feito memorável, sem dúvidas.
Em maio de 1960 uma nova homenagem foi feita com a colocação de seu busto em novo e definitivo local: em frente a recém construída Capela de Nossa Senhora das Vitórias. Poucos vascaínos sabem mas o culto a padroeira do clube começou com Antonio Campos em 1923 depois de receber onze medalhas do dirigente do Botafogo, o folclórico Carlito Rocha, para ser distribuída aos jogadores. O santuário foi, segundo Álvaro Nascimento, “um sonho em vida que não conseguiu concretizar”
Antonio da Silva Campos faleceu vítima das complicações de um AVC. Era casado Com Anna Nova Campos e teve 5 filhos ( Carlos, Antonio, Dulce, Manuel e Julia). Em sua homenagem o diretor Abelardo França ressaltou a importância dele para o clube: “é muito difícil separar qualquer episódio da vida do Vasco sem encontrar a passagem de Antonio Campos (...) numa inquietação a quem se dedica a um trabalho intenso movido pelas forças do coração (...) tirou as energia de sua vida para dedicá-las aquilo que ele considerava motivo de sua própria existência”.
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